Escolha da área por ser a única desvinculada de outras finalidades é o que Canela merece para o esporte?
O anúncio da área do novo ginásio municipal é importante, mas levanta questionamentos sobre o que queremos — de verdade — para o esporte de Canela. É um avanço? Sim. Mas é o ideal? Ainda não. A escolha da área no Canelinha pode ter sido a mais prática, por estar livre de outros vínculos, mas está longe de representar uma política pública robusta e estruturada para o esporte. Seguimos correndo atrás da carência, não de um projeto estratégico.
O prefeito Gilberto Cezar anunciou a localização da futura obra na manhã desta sexta-feira (11), durante o evento de prestação de contas dos 100 dias de governo.
Aliás, se você quer saber mais sobre o que eu penso sobre esse evento, aqui está a matéria. O título foi eu que fiz — então já dá pra ter uma ideia da minha opinião.
O sucesso da apresentação dos 100 dias de Governo de Gilberto e Tolão
Se quiser detalhes técnicos sobre a área escolhida, aqui está a matéria específica sobre o local do novo ginásio.
Gilberto Cezar anuncia construção do Ginásio Municipal no Canelinha
Mas agora, vamos à opinião deste colunista — já compartilhada inclusive com o prefeito e alguns secretários, pessoalmente, na manhã de hoje.
A Administração Municipal deixou claro que diversas outras áreas foram buscadas, mas a decisão recaiu sobre o Canelinha por ser o único terreno já desafetado, sem impedimentos de uso. A impressão que fica é que este foi o caminho mais fácil — ou, pior, que para o esporte restou o que sobrou. A escolha não partiu de um projeto esportivo, tampouco de uma política pública clara para o setor.
Se ao justificar o “sonho” de se ter um Ciep Municipal na área da Celulose o prefeito argumenta que Canela ainda não possui uma escola-modelo, no esporte a carência é ainda mais evidente. Não temos um ginásio com dimensões oficiais, muito menos uma estrutura que sirva de referência.
E aí surgem algumas perguntas essenciais:
O que de fato queremos para desenvolver o esporte em Canela?
Este projeto de ginásio é o espaço definitivo que aguardamos há anos, capaz de receber competições de alto nível e fomentar a prática esportiva?
Ou é mais um espaço para suprir, provisoriamente, uma carência histórica?
Hoje, quem mora fora dos bairros São José, Santa Marta e Dante enfrenta dificuldade real para chegar ao Carlinhos da Vila nos jogos que iniciam às 19h. No Canelinha, a situação muda pouco. Apenas inverte-se a dificuldade: um lado da cidade ganha acesso, o outro continua longe. A diferença é mínima.
A localização central não é capricho. Ela é condição para democratizar o acesso, garantir maior participação da comunidade e fomentar uma verdadeira cultura esportiva. Espaços nos bairros são fundamentais, sim — quanto mais, melhor — mas é preciso uma estrutura central de referência, com capacidade de articulação. É esse espaço que abriga grandes eventos, atrai olhares, forma atletas e gera pertencimento.
Se a proposta é apenas atender à demanda reprimida, talvez um investimento mais profundo no ginásio Carlinhos da Vila resolvesse a questão emergencial. E nos daria tempo para pensar com calma: o que queremos, onde queremos e como queremos um futuro esportivo para Canela?
O vice-prefeito, Tolão, me disse: se não for nesta área, a Prefeitura terá que adquirir outro terreno. E é verdade: com o metro quadrado valorizado, o custo tende a ser ainda maior no futuro — e as oportunidades, mais raras. Mas isso também me leva a pensar: será que Canela nunca terá um espaço esportivo realmente central? Aquele espaço-modelo, de dar orgulho, capaz de sediar competições regionais, estaduais — quem sabe nacionais — em qualquer modalidade?
Ao fim e ao cabo, se o ginásio sair do papel, com quadra oficial, vestiários, arquibancadas e estacionamento, será, sim, um avanço. E ficarei feliz com isso. O Canelinha, que já concentra boa parte das estruturas esportivas da cidade, sem dúvida merece mais investimentos.
Mas esse projeto anunciado hoje, até que me provem o contrário, não resolve o problema do esporte em Canela. Seguimos sem política pública. Seguimos, mais uma vez, com o que sobrou.
Faço essa coluna porque tenho certeza de que Canela pode mais e que a atual Administração Municipal também pode nos entregar mais, neste seguimento.
Quem sabe, um dia, poderei escrever a seguinte manchete:
“Após política pública que prioriza o esporte, Canela demonstra resultados na saúde, na educação, nas quadras e nos campos, sendo modelo para outros municípios”.
Quem sabe, um dia… hoje, foi o que deu para fazer!